linha cinza

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sábado, 29 de dezembro de 2012

O Navegante das Almas

por Sheila Sacks

 











Quem é o anjo que me ampara,

em que tempo e galáxia mantém-se como pilar,

coluna do mundo.


Sobre os seus ombros recaem os pecados

incontáveis,

das gerações insensatas

... Tempestades de fogo!


Sobre a sua face escorrem tormentas,

indagações,

a agonia dos seres fugazes

... Tempestades de sal!


Deixe-me romper os mares

e cingir-me aos seus pesares,

estar ao seu lado em meio aos trovões

e trovoadas.


Ah! Meu justo, meu anjo audaz,

dê-me um dízimo, que seja,

do fardo a mim reservado.











Tu guardas calado o som da tempestade,

vela sentinela a cabeceira do vulcão.

Mas são seus o desespero e a dor

dos que se debatem nas águas escuras

das causas perdidas,

insensatas.


Seus também o braço e o regaço

dos que se lançam oceano afora,

à conquista dos mistérios e tesouros

do imponderável.


Velas ao vento,

veleiros ao sabor da tempestade,

o navegante das almas navega

o lado oculto dos mares.
















Ah! Meu anjo, meu justo,

faça-me tocar o véu da madrugada,

irromper de patins, algodão doce nas mãos,

a avenida estrelada de sua pousada.


Vou cobrir a minha cabeça

e repetir em cadência

a mais antiga das preces.

No templo ensolarado

o que tem mais valor senão meus salmos,

cânticos e rezas,

ditos imemoriais.


Vou me chegar qual criança acanhada

cheia de dedos e medos,

os quais ao primeiro afago,

se desfazem.

Junto ao meu justo será como voltar à infância,

à casa dos pais:

aninhado, acarinhado,

bem-aventurado,

estarei enfim são e salvo

... Aleluia!

dos dragões das tempestades.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A civilização oculta

Pesquisadores buscam vestígios de um legado espiritual secreto
Por Sheila Sacks

Várias décadas após o suiço Erich von Däniken surpreender milhões de pessoas com a teoria de que as divindades reverenciadas pela humanidade seriam seres extraterrestres - de uma civilização adiantada que visitou o planeta terra em tempos pré-históricos ('Eram os deuses astronautas', publicado em 1968) -, uma outra tese não menos polêmica sobre o tema tem sido defendida por dois pesquisadores ingleses. De acordo com Philip Gardiner, escritor, roterista e diretor de documentários, e seu parceiro Gary Osborn, os deuses não seriam alienígenas, mas humanos e de origem terrena, oriundos de uma civilização misteriosa e avançada que sobreviveu aos dilúvios e outros cataclismos.

Na obra “O Priorado Secreto” (2006), os autores, que já publicaram uma dezena de livros sobre sociedades ocultas e profecias, escrevem: “Talvez seja difícil de acreditar, mas evidências consistentes sugerem que conhecimentos técnicos avançados circulavam entre nós muito antes das datas convencionais atribuídas à pré-história humana e que uma cultura desconhecida havia codificado indícios reconstituíveis desses conhecimentos.”

Uma das evidências físicas citadas pelos ingleses se refere ao Círculo de pedras de Refaim (círculo dos gigantes) - Gilgal Refa'im, em hebraico, e Rujm el-Hiri ( monte de pedras do gato selvagem), em árabe -  que os autores consideram um dos maiores mistérios de Israel. Situado na região das colinas de Golã, a 16 quilômetros a leste do mar da Galileia, o complexo se constitui em uma gigantesca estrutura de cinco anéis concêntricos de milhares de pedras basálticas, pesando mais de 45 mil toneladas, construída sobre uma planície, cujas reais dimensões só podem ser vistas do alto. 
O monumento  de pedra, que arqueólogos calculam possa ter sido erguido há mais de 5 mil anos, passou despercebido por séculos e só foi detectado através de uma pesquisa aérea. As imagens foram liberadas por Israel após a “guerra dos seis dias”, em 1967. 

Gardiner e Osborn defendem que edificações colossais como as pirâmides do Egito, o complexo monolítico Stonehenge, no sul da Inglaterra, as esculturas gigantes de pedra na Ilha de Páscoa (província do Chile), entre outras, foram erguidas sob a inspiração dessa civilização, originalmente formada por gigantes (a Bíblia também menciona povos gigantes – os nefilim, refaim e enacim - no Gênesis, Números e Josué) que, à parte as suas obras arquitetônicas instigantes deixaram um legado de conhecimento espiritual codificado em mitos, símbolos, lendas e fábulas. Histórias e “contos de fadas” passados oralmente de geração em geração, em grande parte por pessoas simples que não tinham consciência dos segredos contidos nas narrativas.
Conhecimento avançado
Para os pesquisadores, tanto a humanidade atual como as primeiras civilizações tradicionais que conhecemos jamais possuíram uma compreensão plena e acabada desse antigo sistema de conhecimento. As informações foram passadas através do tempo de forma fragmentada, sendo mal interpretadas e mal conceituadas. Gardiner e Osborn afirmam que essa misteriosa “ordem sacerdotal” teria civilizado a humanidade, talvez após uma catástrofe global. “Com o tempo, devido ao seu conhecimento científico, sabedoria espiritual e suposta capacidade extrassensorial, os povos menos desenvolvidos que conviviam pacificamente com esses seres mais avançados começaram a considerá-los deuses”. A base dessa argumentação vem da constatação da presença do mesmo sistema fundamental de crenças nas várias religiões existentes em todos os quadrantes do mundo, embora cada uma delas use denominações próprias, práticas e rituais diferentes.
A fonte desse sistema de crenças estaria nos antigos cultos solares e na experiência da “iluminação”. Segundo os autores, o padrão cíclico da natureza, a experiência renovadora do sol e os seus movimentos estão intrinsecamente vinculados ao efeito iluminador do “despertar” interior, do “renascer” e da experiência da “iluminação”. Eles citam a figura bíblica de Sansão, cujo nome deriva do hebraico shemesh (sol) que é idêntico a shamash, o deus sol dos sumérios. Quando Sansão tem seus cabelos cortados por uma mulher e perde a sua força descomunal, observa-se a simbologia do sol presente na narrativa porque sua cabeleira representa o poder irradiador dos raios de sol.
Outro exemplo mencionado diz respeito ao maior profeta e libertador do povo de Israel, Moshé Rabenu ou Moisés, autor dos cinco primeiros livros (Pentateuco) da Bíblia hebraica (Torá) que contêm os fundamentos legais, morais e éticos do judaísmo. Gardiner e Osborn escrevem que em Êxodo 34, a citação é de que Moisés desceu do Monte Sinai com seu rosto “emitindo raios luminosos”. Os autores ressaltam que o profeta cresceu no palácio do faraó como um príncipe egípcio e provavelmente foi iniciado na tradição, simbologia e astrologia egípcias do culto ao sol, às estrelas e aos padrões cíclicos da natureza. Entretanto, em Devarim (Palavras), também chamado de Deuteronômio, o quinto livro de Moisés, é feita uma advertência para que os hebreus não se envolvam com esses cultos: “Levantando teus olhos ao céu e vendo o sol, a lua, as estrelas e todo o exército do céu, não te deixes seduzir para adorá-los e servi-los! (4:19).
Adiantando-se no tempo, os autores chegam até os essênios. Seita judaica que existiu nos últimos séculos antes da Era Comum, seus integrantes viviam em Qumrã, no deserto da Judeia, perto do Mar Morto. De acordo com os documentos escondidos em cavernas e descobertos a partir de 1947 (Manuscritos do Mar Morto), essa comunidade se autodenominava “Filhos da Luz” e o “governador” era chamado de “coroa”, uma alusão à sua condição de “ser iluminado”. Os pesquisadores acentuam que a superação da morte também tinha no sol a sua inspiração. “Os movimentos do sol produziram lendas sobre o lugar para onde o deus sol vai e por que volta e serviram para encobrir ideias sobre como nós mesmos poderíamos, supostamente, reencarnar ou receber uma nova vida.”
 O despertar do “eu interior”
O fenômeno universal do culto ao Sol, segundo os autores, estaria intrinsecamente vinculado - em todas as crenças - ao efeito iluminador do “despertar” interior ou à experiência da “iluminação”. Para o homem primitivo, o sol físico vivificador também representava o “sol interior” que se alcança no instante da “iluminação”. Essa experiência espiritual e mística obtida através da meditação e de jejuns em que o indivíduo transporta a sua consciência humana limitada a alturas transcendentais - onde a mente é revitalizada e inundada com novas informações e conhecimentos - é na verdade o despertar para a verdadeira natureza da realidade. A pessoa adquire uma percepção mais intensa de si mesma e do cosmos, e este seria o verdadeiro significado por trás do culto ao sol.
Para a dupla de ingleses, esse sistema de crenças que abrange as antigas ideias da árvore do mundo (a árvore da Vida, na Cabalá), a reencarnação, o renascimento, o culto do céu - com tudo o que o envolve como o sol, a lua, as estrelas e os astros - , com nomes que de alguma forma significam “brilhar” ou “ser brilhante”, também migrou para a Europa, talvez levado pelas tribos do norte de Israel deportadas pelos assírios, no início do primeiro milênio antes da Era Comum (as chamadas tribos perdidas). Pela tradição, os sacerdotes da Europa celta (formada por diversas etnias que povoaram o oeste do continente a partir do segundo milênio antes da Era Comum) eram chamados druidas (significando “o saber do carvalho”). Eles praticavam a adivinhação, a astrologia e o culto à árvore. Em suas narrativas é creditado a Hu Gadarn Hyscion (filho de Isaac), um hebreu egípcio, a fundação do terceiro templo no círculo de pedras gigantes de Stonehenge.
Mais evidências
No livro “As digitais dos deuses” (Fingerprints of the Gods, publicado em 1995), o jornalista e pesquisador nascido na Escócia, Graham Hancock, igualmente defende a tese da existência de uma civilização adiantada, anterior a pré-história convencional da humanidade. Ele se utiliza de um documento datado de 1513 - o mapa-múndi Piri Reis – desenhado pelo almirante do mesmo nome, em Constantinopla. O mapa mostra a costa ocidental da África, a costa oriental da América do Sul e a costa norte da Antártida, esta última região desconhecida até 1818, 300 anos depois de Piri Reis ter desenhado o mapa.
Outro mistério diz respeito à indicação de ausência de gelo em parte do território antártico conhecido como a Terra da Rainha Maud (área da Antártida oriental reclamada pela Noruega), uma prova geológica que confirma que o mapa se baseou em um documento original de pelo menos 4 mil anos antes da Era Comum quando a costa estava livre de gelo. “Em outras palavras, o verdadeiro enigma desse mapa de 1513 não está tanto no fato de ter incluído um continente que só foi descoberto em 1818, mas em mostrar parte da linha costeira desse mesmo continente em condições de ausência de gelo que terminaram há 6 mil anos e que desde então não se repetiram”, enfatiza Hancock. Ele conta que o almirante deixou uma série de notas escritas no mapa, admitindo que seu papel foi de compilar e copiar desenhos de cartógrafos que retroagiam a épocas anteriores à pré-história.
Ainda acerca do mapa de Piri Reis, o escritor e professor universitário norte-americano graduado em Harvard, Charles Hapgood (1904-1982), especializado em antropologia e história da ciência, argumentava que alguns mapas básicos antigos usados pelo almirante seriam fundamentados em fontes de uma época ainda mais recuada da antiguidade. Empenhado na formulação da teoria do deslocamento da crosta terrestre, considerada por Albert Einstein “fascinante”, Hapgood afirmava que a terra foi extensamente mapeada por uma civilização até então desconhecida e ainda não descoberta, dotada de alto grau de progresso tecnológico, que existiu há mais de 4 mil anos antes da Era Comum.
Catástrofes extinguiram civilizações
Propondo a teoria de que o eixo de rotação da terra mudou pelo menos três vezes nos últimos 100 mil anos, por força de deslocamentos da crosta terrestre provocados pelo degelo das calotas polares, Hapgood acreditava que tais rupturas globais podem ter dado origem a cataclismos e provocado a extinção de civilizações desconhecidas e avançadas como a da Antártida, destruída por uma mudança catastrófica. Para validar a tese, o estudo das carcaças de mamutes congelados encontrados na Sibéria mostrou que esses animais extintos há 10 mil anos tinham em suas bocas um tipo de capim proveniente de climas quentes, apesar de tais animais terem sido descobertos em terras geladas.  
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Glasgow, no Reino Unido revelaram que encontraram a presença de palmeiras no território da atual Antártida, através de perfurações no gelo que trouxeram à tona o pólen de palmeiras e de outras árvores de climas quentes como os baobás oriundos das estepes africanas. Segundo os estudiosos, há 53 milhões de anos o clima desse continente era semelhante ao sul do Brasil, com invernos em torno de 10ºC e verões com temperatura de 25º C. O professor Hapgood, desde 1953 sustentava que grandes regiões da Antártida permaneceram livres do gelo até 4 mil anos antes da Era Comum, lembrando que pelo consenso acadêmico as primeiras civilizações se desenvolveram no crescente fértil do Oriente Médio por volta de 3 mil anos antes da Era Comum.
A partir dessa perspectiva, o autor de “As digitais dos deuses” observa que alguns dos mitos mais impressionantes e duradouros que a humanidade herdou dos tempos antigos dizem respeito a uma pavorosa catástrofe global. " De onde vêm esses mitos? pergunta Hancock. Por que, embora procedam de culturas diferentes, seus temas são parecidos? Se são realmente memórias, por que não existem registros históricos das catástrofes históricas que parecem aludir? São indagações que se inserem nas narrativas do dilúvio bíblico e que também são encontradas na tradição de outros povos, como no livro sagrado dos maias (Popol Vuh). “Em todo o mundo são conhecidas mais de 500 lendas que falam do dilúvio e em uma pesquisa de 86 delas em continentes diferentes, um pesquisador especializado, Dr. Richard Andree, concluiu que 62 eram inteiramente independentes da versão hebraica”, assinala Hancock.
Pistas falsas
Já o historiador e arqueólogo francês Robert Charroux (1909-1978) vai mais longe nas suas considerações sobre essas civilizações desconhecidas, afirmando que antepassados superiores construíram naves siderais, viajaram no cosmos e conheceram a energia atômica. Em seu livro “A história desconhecida dos homens desde há cem mil anos” (1963), o autor defende que os poucos sobreviventes dessa humanidade superior “legaram aos seus descendentes uma grandiosa mensagem, advertindo-os porém das consequências das suas próprias descobertas”. Dessa forma, no decorrer dos séculos “centros de contraverdade têm ocultado este conhecimento, mantido embora por sociedades de iniciados”, afirma o francês.
Para Gardiner e Osborn existe uma espécie de “sacerdócio secreto” advindo dessa civilização desconhecida que desenvolveu um método de grande eficácia para chegar ao êxtase espiritual. Herdeiro e guardião do conhecimento da “iluminação interior” e das correntes místicas, esse priorado revela vestígios semelhantes nas grandes religiões e nas várias doutrinas esotéricas. “Platão foi um iniciado nesses mistérios. Ele diz que foi posto numa pirâmide durante três dias, morreu simbolicamente, renasceu e então conheceu os segredos dos mistérios”, escreve os autores de “O Priorado Secreto”.
O esplendor da Cabalá
É interessante observar que a obra central da corrente mística do judaísmo, a Cabalá (‘tradição’, em hebraico), se denomina Sefer HaZohar ou o “Livro do Esplendor”, uma referência à luz e à iluminação. Estudando o significado místico e simbólico de trechos bíblicos interpretados pelo Zohar, o filósofo e historiador Gershom Scholem (1897-1982) cita o versículo 12:1 do Gênesis como exemplo: “As palavras de D’us a Abraão, Lech Iecha (Vai-te) não se limitam ao seu significado literal, a ordem de D’us para que Abraão siga pelo mundo afora. Elas são lidas com literalidade mística significando “Vai-te a ti mesmo”, isto é “Encontra-te a ti próprio", explica.
Atribuído ao rabi Shimón Bar Yochai (Rashbi), que viveu no século 2 da Era Comum, o Zohar também é chamado de “Chochmat ha-Emet” (a sabedoria da verdade). Até ser verbalizado, esse conhecimento advindo da Torá era transmitido oralmente pelos primeiros cabalistas denominados “nistarim” (os ocultos). O rabino Chaim David Zukerwar (1956-2009), em seu livro “As 3 dimensões da Cabalá: Essência, Infinito e Alma”, escreve: “A fonte da Luz é a causa e origem de toda a criação. Por essa razão a denominação empregada pela Cabalá para designar a energia de vidas é Or – luz, em hebraico.” Paradoxalmente, os sábios também afirmam que a luz que foi feita no primeiro dia da Criação ( E D’us disse “Que haja luz, e houve luz”) foi “oculta aos justos no mundo vindouro”. A explicação dada pelo Zohar indica que as palavras hebraicas “Or” (luz) e “Raz” (segredo) são numericamente equivalentes, isto é, que estão relacionadas uma com a outra. Isso significaria que a luz original do início dos tempos só retornará em seu esplendor original com a evolução espiritual e o compromisso do homem com o bem, em um tempo porvir.
A benção do sol
Das muitas tradições judaicas, a benção do sol praticada ao longo das gerações apresenta uma característica única: o seu ritual somente se dá a cada 28 anos, quando o sol, de acordo com os sábios, retorna à posição exata onde estava no momento de sua criação. Diz o Bereshit: “E fez D’us os dois luzeiros grandes: o luzeiro maior para governar o dia; e o luzeiro menor para governar a noite... E foi noite e foi manhã, dia quarto.” Para celebrar esse mandamento (mitzvá), as pessoas se reúnem ao ar livre e é recitada uma benção especial – Bircat Hachamá (benção do sol) - precedida e seguida de salmos e preces. Sempre ocorrendo em uma manhã de quarta-feira – o dia da semana no qual D’us colocou em órbita o sol, a lua e todos os corpos celestes - o último encontro se deu em 8 de abril de 2009 (ano judaico de 5769), quando mais uma vez foi recitada a prece que lembra os milagres divinos: “Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, que reencena as obras da Criação.” (Baruch Ata Adonai, Eloheinu Melech HaOlam Ossê Maassê Bereshit).
Mas, apesar das explicações rabínicas sobre a benção do Sol – que tem o intuito de louvar a Criação Divina -, pesquisadores como Gardiner e Osborn insistem em enxergar vestígios desse ritual ancorados a uma tradição desconhecida anterior a dos hebreus. O arqueólogo e historiador Zecharia Sitchin (1920-2010), estudioso dos idiomas antigos orientais, expõe em seu livro “O código cósmico” (2003), a familiaridade dos antigos hebreus com as constelações do zodíaco, iniciada com Terach, pai de Abrãao (Avraham) em Ur, na Suméria (atual Iraque). Ele faz uma correspondência entre os 12 signos zodiacais com os 12 filhos de Ismael (“Dele nascerão dozes chefes; E sua nação será grande” - Gênesis 17:20), os 12 filhos de Jacob (“E o número dos filhos de Jacob foram doze” – Gênesis 35), e as 12 tribos que povoaram a Terra Prometida, após o Êxodo, uma constância que, em sua opinião, “preserva a  exigência-santidade do Doze celeste”.
Sitchin, que viveu em Israel e nos Estados Unidos, revela que a expressão hebraica “mazal-tov”, pronunciada nas festividades e entendida pela maioria como “boa sorte”, significa literalmente “uma boa e favorável constelação zodiacal”. Segundo o arqueólogo o termo deriva do acadiano (a mãe das línguas semitas), em que manzalu significa “estação” – a estação zodiacal na qual o sol “estacionava” no dia do casamento ou nascimento. Ele também assegurava que a monumental e enigmática estrutura de círculos de pedra na planície das colinas de Golã, o Gilgal Refaim, foi um observatório astronômico construído por uma civilização desconhecida, 7 mil anos antes da Era Comum.

Por sua vez, o arqueólogo israelense Uri Berger afirma que já foi identificado que nos dias mais curtos e mais longos do ano ( solstícios de junho e dezembro) o nascer do sol se alinha com a abertura das rochas basálticas.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O PT no Éden

Por Sheila Sacks
Publicado no “Observatório da Imprensa” http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed717_o_pt_no_eden

“E da árvore do conhecimento, do bem e do mal, não comerás dela...” (Gênesis 2:17)
A condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e do ex-presidente do PT José Genoíno por corrupção ativa, no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), foi interpretada pelo ex-presidente Lula como uma jogada de efeito para a plateia. “Foi uma hipocrisia”, disse Lula, em conversas reservadas. E aos candidatos do PT e prefeitos eleitos pelo partido recomendou: “Se querem fazer o debate da ética, vamos fazer” (...). “Nós não precisamos ter medo desse confronto porque não abafamos investigações. Não vamos apanhar calados nem deixar nada sem resposta” (“Para Lula, condenação é hipocrisia” – Estado de S.Paulo, 10/10/2012).
Figuras fundamentais na trajetória política de Lula em sua campanha para alcançar a presidência da República, em 2003, e, posteriormente, na arregimentação de aliados parlamentares no Congresso para viabilizar o programa de reformas e assim tornar efetivas as promessas eleitorais do PT, Dirceu e Genoíno tiveram que lidar, na prática, com os aspectos mais negativos do sistema partidário brasileiro. O excesso de siglas, o individualismo dos políticos, a cultura do apadrinhamento, a instituição da patronagem, do clientelismo e do patrimonialismo, apontados como os grandes males da política nacional pelo brasilianista Scott Mainwaring, em 1999 (Sistemas partidários em novas democracias: o caso do Brasil), permaneciam inalteráveis, exercendo continuada pressão e resistindo às transformações da sociedade e ao avanço das instituições democráticas no país.
Votações no Congresso
O fragmentado e multifacetado quadro partidário e a profusão de partidos do tipo catch-all (de reduzida ideologia, sem militância ativa, com forte liderança no topo e representando diversos grupos de interesses, segundo definição do constitucionalista alemão OttoKirchheimer), dificilmente estimulariam experientes cardeais do único partido brasileiro efetivamente ideológico-pragmático a acreditarem que argumentos cívicos convenceriam essas organizações eleitorais a se alinharem de maneira altruísta nos processos de votação no Congresso, ainda que se configurassem de real interesse para o país.
Na análise do cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley Reis, houve por parte do núcleo político do PT uma “arrogância” que conduziu “à desqualificação dos outros participantes do jogo parlamentar, considerados burgueses, e à ideia de que o melhor a se fazer era comprar sua lealdade”. Em entrevista ao Estado de S. Paulo (“Mensalão foi possível por um desvio ideológico”), o professor avaliou que o processo do mensalão “levou o partido à moderação, à aceitação do jogo socialdemocrático.” No seu ponto de vista “uma evolução positiva”.
Contudo, a premência na aprovação de reformas cruciais que careciam do aval do Congresso foi talvez o fator determinante a preceder todo um processo de encontros e conversas comumente regados de pedidos e ofertas culturalmente aceitáveis pela cena política brasileira. Tais como a incorporação de cargos em ministérios e órgãos públicos para seus indicados e liberação de recursos para favorecer empreendimentos de interesse de seus grupos. Mas, será que o convencionalmente aceito pelas elites políticas seria o suficiente para assegurar o pleno êxito nas votações? Citando ainda o professor Fábio Wanderley Reis, “essa mescla de disposição ideológica, ânimo realista e busca de eficiência, que levou ao mensalão, é muito singular dele” (referindo-se a José Dirceu).
Paraíso mental
Acrescida, diríamos nós, de uma espécie de euforia própria daqueles que após um grande esforço pessoal e uma série de obstáculos e reveses, conseguem alcançar a meta profissional pretendida ou vivenciar um sonho ideológico de juventude. Essa síndrome de felicidade – o se sentir nas nuvens – remete muitas vezes os abençoados a um paraíso mental que por algum tempo parece exclui-los do tradicional sentimento de incompatibilidade e mal-estar do homem com a civilização, mencionado por Freud, em 1930. Segundo o psicanalista, o sofrimento mais penoso é aquele que advém de nossos relacionamentos com as outras pessoas pela “inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos do seres humanos na família, no Estado e na sociedade” (O mal-estar na civilização).
Esse enquadramento do indivíduo às regras (leia-se leis) impostas pelo Estado é a matéria-base das ciências humanas nos âmbitos social, judicial e político cujos estudos e análises primordialmente recorrem à filosofia teórica e ortodoxa da ética para consubstanciá-los. Reordenado periodicamente em suas ações por força de mecanismos jurídicos que se sucedem, o homem contemporâneo ganhou o selo de cidadão, uma entidade moldada pelo Estado com a finalidade de homogeneizar a sociedade para a normatização de seus preceitos e mandamentos.
Em artigo recente, o desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, adverte para a crescente interferência do Poder Judiciário na vida coletiva que “no desempenho da jurisdição, exerce uma parcela do poder político”. Lembra que “em nosso país, a ‘judicialização’ da vida social foi incrementada em ritmo assustador após a redemocratização e a promulgação da Constituição de 1988” e que “o fenômeno da ‘judicialização’ consiste na decisão pelo Judiciário de questões relevantes do ponto de vista político, social ou moral.” E cita Luís Roberto Barroso, autor de Direito e Política: a Tênue Fronteira, que afirma: “Trata-se, como intuitivo, de uma transferência de poder das instâncias tradicionais, que são o Executivo e o Legislativo, para juízes e tribunais” (“Judicialização da política” – Estado de S. Paulo, 3/10/2012).
Por conseguinte, se o veredicto do STF pode soar como um trovejar divino para a mídia, o alcance de seu juízo e de seu discurso “ético”, em se tratando do PT, estará circunscrito à arbitragem das penalidades. Tanto Dirceu como Genoíno se declaram inocentes. Em sua “Carta Aberta ao Brasil” (10/10/2012), o ex-presidente do PT finaliza o documento dizendo: “Retiro-me do governo (era assessor especial do Ministério da Defesa) com a consciência dos inocentes. Não me envergonho de nada.”
Isto é, o paraíso ainda existe para os dirigentes do PT, a despeito dos enganadores cantos das sereias. Não deixa de ser admirável.  

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O leitor fiel

por Sheila Sacks
Publicado no site "Observatório da Imprensa"
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed712_o_leitor_fiel
“A leitura diária do jornal é a oração matinal do homem moderno” (G.W.F. Hegel, filósofo do século 19 e redator do Bamberger Zeitung, de 1807 a 1808)
Na obra A Cabala e o seu Simbolismo, o historiador e professor Gershom G. Scholem (1897-1982) observa o caráter conservador e tradicional do crente em relação à autoridade religiosa que o guia. Esse fato se deve, de acordo com Scholem, à educação e à herança antiga que carregam dentro de si. “Ele cresceu dentro do quadro de uma autoridade religiosa reconhecida e, mesmo quando começa a olhar independentemente para as coisas e procurar seu próprio caminho, todo o seu pensar e especialmente sua imaginação continuam permeados de elementos tradicionais”, explica.
Um dos maiores estudiosos contemporâneos das correntes místicas do judaísmo, Scholem procura referendar a sua tese com as seguintes indagações: “Por que um místico cristão sempre tem visões cristãs, e não as de um budista? Por que um budista sempre vê as figuras do seu próprio panteão, e não, por exemplo, Jesus ou Maria? Por que um cabalista, em busca de iluminação, se encontra com o profeta Elias, e não com a figura de um mundo estranho? A resposta é, evidentemente, que a expressão da experiência de um místico é por ele imediatamente transposta para símbolos de seu próprio mundo, mesmo que os objetos destas experiências sejam essencialmente iguais.”
A fidelidade do crente para com a sua religião encontra no mundo secular um paralelo análogo e curioso quando se analisa a relação, muitas vezes paranoica e até fundamentalista, do leitor com o seu jornal. Similar a um líder espiritual, o jornal o informa, orienta e o aconselha sobre temas relevantes, sempre sob uma determinada ótica – a sua visão –, levando o leitor a assimilar uma linguagem e uma experiência de conceitos e ideias que o tornam conservador e até impermeável a outros pontos de vista.
Espaço dos leitores
Ainda que variáveis possam ocorrer, essa constatação pode ser facilmente aferida no espaço que o jornal concede à opinião dos leitores – uma página, em se tratando de O Globo –, cujos comentários e argumentações nos remetem, inevitavelmente, ao pensamento editorial/político do jornal. Isso vem acontecendo com relação ao que ficou conhecido como o “julgamento do mensalão”. A retórica utilizada pela imprensa é reproduzida, muitas vezes inconscientemente, por seus leitores, que se transfiguram em porta-vozes informais dos jornais, justamente nesses raros e valiosos canais abertos para o que se convencionou intitular de opinião pública.
Há pouco mais de um mês (7/8/2012), o Observatório da Imprensa publicou um artigo do professor Venício A. de Lima (“Que 'opinião pública´é essa?") em que o articulista chama a atenção para a postura condenatória de jornalistas e colunistas para com os indiciados do mensalão, sob a alegação de uma suposta “pressão da opinião pública”. No entanto, segundo pesquisa publicada na CartaCapital, citada pelo autor, apenas uma em cada dez pessoas tem conhecimento do julgamento.
A doutrinação subliminar que a imprensa tem infundido a seus leitores ao longo do tempo tem criado a figura do leitor fiel, aquele que crê e segue incondicionalmente o ponto de vista editorial do jornal, mesmo sem ter consciência do fato. Assim como a religião é uma tradição familiar que se perpetua através de gerações, o jornal também se tornou uma tradição familiar que atinge todos que o acompanham. Dessa forma, o espaço dos leitores nos jornais estaria limitado a uma única retórica, a uma opinião direcionada que não se enquadraria na diversidade que o termo “opinião pública” engendra.
Despolitização e desencanto
Em 2010, em um seminário internacional em Lisboa sobre “Mídia, Jornalismo e Democracia”, Thomas Patterson, professor da Universidade Harvard na disciplina “Governo e Imprensa”, surpreendeu a plateia ao afirmar que a mídia norte-americana, apesar da grande quantidade de notícias, não tem contribuído para criar cidadãos informados e engajados no processo democrático. Autor de vários livros sobre a influência da mídia na participação política, Patterson acredita que o jornalismo crítico do jeito que vem sendo praticado enfraquece o interesse das pessoas pela política. “Jornalismo e democracia partilham um destino comum: sem instituições democráticas e sem espírito democrático, os jornalistas ficam reduzidos a propagandistas e entertainers.”
Esse comportamento da mídia já havia sido alvo da reprimenda de Patterson em 1998, em entrevista publicada no Diário de Notícias de Portugal. Na ocasião, o autor do premiado Out of Order (1993), considerado o melhor livro da década sobre comunicação e política pela APSA (The American Political Science Association), foi incisivo: “Há toda uma ideologia de notícias partilhada pelos jornalistas que pode acabar por afastá-los da realidade social. A informação não é um espelho da realidade, é uma visão refratada, moldada pela ideologia do jornalista.” E disparava: “A maioria acha que os jornalistas são demasiados críticos, negativos, desrespeitadores, sensacionalistas e opinativos.”
Visão semelhante à do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1939-2002), para quem o mundo jornalístico com seus mecanismos produz e impõe “uma imagem cínica do mundo político, espécie de arena entregue às manobras de ambiciosos sem convicções, guiados pelos interesses ligados à competição que os opõe”. Bourdieu dizia que esse tipo de exposição concorre para produzir um efeito de despolitização e desencanto com a política (Sobre a Televisão, 1997).
Paladino do bem
Com um discurso parecido, o veterano jornalista Lawrence Grossman, que presidiu a rede de rádio e TV americana NBC News de 1984 a 1988, acusa a mídia de “contribuir enormemente para o crescente cinismo do público, para o seu afastamento da política e para a desconfiança em relação ao governo”. Grossman faz uma apreciação sombria do jornalismo, que no seu entender está se tornando “um deserto vasto e inculto”. Autor da obra Eletronic Republic (1995), alguns anos mais tarde escreveu: “O jornalismo atual se concentra quase exclusivamente nos erros do governo e naquilo que ele não deveria fazer em vez de se concentrar nos serviços essenciais que ele fornece” (Caro McChesney, 1999).
Essas considerações foram dirigidas ao pesquisador e professor de Comunicação da Universidade de Illinois, Robert W. McChesney, defensor entusiasta de uma mídia pública, cívica e comunitária, regida por investimentos governamentais, uma proposição considerada por muitos como utópica e fora da realidade. Em seu livro Morte e Vida do Jornalismo Americano (2010), escrito em parceria com John Nichols, esse especialista em estudos dos meios de comunicação de massa reafirma seu ponto de vista alertando que “é inteiramente irreal esperar que a motivação do lucro proporcione algo próximo do nível de jornalismo necessário para uma cidadania informada e para um governo democrático”.
Nas condições atuais, percebe-se que dificilmente o leitor terá a chance de alcançar um grau relevante de independência em suas opiniões, basicamente formadas por crenças construídas a partir de um aforismo que se convencionou rotular de “interesse público”. Hoje as opiniões são crenças compartimentadas e compartilhadas por comunidades de fieis que, tal como nas doutrinas religiosas, colocam seus credos à frente da razão.
O psicólogo americano Michael Shermer, que estuda há três décadas esse fenômeno, acredita que as crenças vêm primeiro e as razões para justificá-las, depois. “Há um mundo verdadeiro lá fora, mas nosso cérebro não possui necessariamente uma correspondência com esse mundo de verdade. Nosso entendimento da realidade depende das crenças que formamos sobre ela”, explica Shermer, autor de Cérebro & crença (Caderno “Prosa” de O Globo, 15/9/12). Enfim, um processo mental coletivo capturado com habilidade pela “república da mídia”, que se utiliza da milenar crença do mal para consubstanciar sua imagem de paladino do bem e da verdade, nas sucessivas cruzadas que promove contra aqueles que são a sua representação dos dragões da maldade.